Teocracia socialista: a tirania em nome da compaixão
Usando o Estado para impor sobre a sociedade um modelo pervertido da igreja primitiva judaica
Julio Severo
“Usar
o modelo apostólico de administração de igreja para sustentar um
sistema de governo que rouba em nome da compaixão é uma perversão da
missão da igreja e da missão do Estado”.
Um
apelo dramático à compaixão, principalmente pelos pobres, conquista
infalivelmente a maioria dos corações. Se esse apelo não funcionasse, o
nazismo e o comunismo jamais teriam feito tanto sucesso. Até mesmo o
diabo, sem precisar se disfarçar de anjo de luz, pode hoje ser muito bem
recebido em qualquer lugar se simplesmente alegar: Vim aqui ajudar os
pobres!
Polvo da teocracia socialista |
Um
desses apelos inovados, feito especialmente para cativar populações
nominalmente cristãs, diz que o socialismo começou no Novo Testamento.
Das profundezas da Grécia antiga
Na
verdade, historicamente, a primeira proposta genuinamente socialista
(ou comunista, dependendo da mega-variedade de rótulos que os marxistas
usam para se encobrir) apareceu na obra A República, escrita pelo filósofo grego Platão, que viveu 400 anos antes de Cristo.
O
plano de Platão para uma sociedade ideal era bem simples: Todos os
homens e mulheres deveriam ter ocupações no mercado de trabalho. A
propriedade privada deveria ser abolida, isto é, ninguém deveria ter
casa própria nem propriedade. Dentro desse conceito, Platão queria que
também as esposas fossem abolidas como “propriedade” privada do marido e
que os filhos fossem abolidos como “propriedade” privada das famílias.
As esposas estariam assim submetidas, como mulheres livres do casamento,
a todas as vontades do Estado. E todas as crianças pertenceriam ao
Estado.
Assim,
em vez de pertencer a um só homem, as mulheres estariam “livres”,
disponíveis para todos os homens. Em vez de criar em seu próprio lar
seus próprios filhos, a mulher estaria “livre” para trabalhar a vida
inteira no mercado de trabalho, fazer sexo com qualquer homem e todas as
crianças concebidas seriam criadas pelo Estado.
Como
um visionário, Platão viu muitíssimos séculos antes, a sociedade
feminista e socialista “ideal”, onde a “igualdade” entre homens e
mulheres reinaria de forma absoluta, dando às mulheres total liberdade
de ocupar todas as funções masculinas, inclusive de soldados e
policiais. O único problema que Platão via era a gravidez, que
atrapalharia a mulher de ter a mesma liberdade que o homem tem de atuar
em diversas profissões, sem as “interferências” previsíveis da natureza.
Muitos
séculos mais tarde, os seguidores de Marx ressuscitariam as mesmas
ideias de Platão, embora com muita cautela diante de ouvidos cristãos ou
moralistas. Entretanto, invariavelmente as políticas socialistas acabam
trazendo como consequência a desmoralização social, onde o casamento
perde sua sacralidade e o sexo sem compromisso e sem casamento se tornam
sagrados. Coincidência ou não, nas mais modernas sociedades
socialistas, cada vez mais todas as crianças são “responsabilidade” de
todos — eufemismo para a posse estatal — e todas as mulheres são de
todos os homens. Falta muito pouco para a família e o casamento serem
completamente abolidos como “maldita herança patriarcal”.
Mesmo
com todas as suas propostas originais e resultados tão patentemente
antifamília, o apelo religioso dos marxistas funciona. Cuidadosamente
acobertando as ideias socialistas de Platão de 400 anos antes de Cristo,
eles insistem em dizer: “O socialismo nasceu na igreja primitiva!”
O que ocorreu nas igrejas primitivas judaicas?
O
que foi que aconteceu na igreja primitiva? Os 12 apóstolos tiveram a
ideia de aplicar, exclusivamente nas igrejas judaicas, uma norma onde
todos os membros deveriam entregar suas propriedades e outros bens aos
apóstolos, para que esses recursos fossem administrados pela igreja.
Muito
diferente da proposta de Platão e do próprio marxismo, que colocam o
Estado no centro da administração e controle, a proposta dos apóstolos
colocava a própria igreja no centro da administração e controle.
Muito
diferente das ideias de Platão, que aboliam o lar e colocavam todas as
mulheres no mercado de trabalho, a proposta dos apóstolos não destruiu o
papel das esposas como trabalhadoras no lar. Nesse sentido, o modelo da
igreja primitiva não tem nada a ver com o marxismo, que tira a mulher
do lar, dando-lhe valor apenas no mercado de trabalho.
Muito
diferente das ideias de Platão, que viam a gravidez como uma
“interferência” da natureza contra a liberdade do Estado para a mulher
ocupar todas as funções masculinas, na igreja toda gravidez era
celebrada como manifestação da bênção de Deus. Nesse sentido, o modelo
da igreja primitiva não tem nada a ver com o marxismo, cujas políticas
entopem as mulheres de contracepção e cuja obsessão pró-aborto se
transformou em assassina insanidade ideológica. Aborto e contracepção
não eram preocupações dos apóstolos, nem faziam parte de sua igreja.
Muito
diferente da proposta de Platão, que queria todas as crianças sob
controle estatal o mais cedo possível, a proposta dos apóstolos não
tirou as crianças da esfera de suas famílias. Nesse sentido, o modelo da
igreja primitiva também não tem nada a ver com o marxismo, que tira as
crianças do lar e da autoridade dos pais a fim de doutriná-las na
religião marxista.
A
meta das ideias de Platão e da ideologia socialista é impor sobre toda a
sociedade uma política de nivelamento, onde o controle do Estado é
absoluto sobre todos na área econômica, moral, sexual, legal, etc.
As igrejas europeias de Paulo eram diferentes da igreja de Jerusalém
A
meta dos 12 apóstolos nunca foi impor sobre todas as igrejas seu modelo
— e muito menos impor sobre a sociedade por meio do Estado, como
tipicamente fazem os adeptos da Teologia da Libertação. Pelo contrário,
havia liberdade para todas as igrejas.
Enquanto
a igreja de Jerusalém, comandada por 12 apóstolos, estabelecia a
entrega de todos os bens, as igrejas europeias do Apóstolo Paulo seguiam
uma direção muito diferente. Paulo queria todos trabalhando
independentemente e cuidando de seu próprio sustento. Nada de vida
comunal e entrega de todos os bens a Paulo.
Paulo
tinha total liberdade de agir diferente, pois na Bíblia não havia
nenhum mandamento ordenando que os seguidores de Jesus são obrigados a
depositar tudo aos pés dos apóstolos. Ele simplesmente viu tal medida
como uma orientação dos apóstolos de Jerusalém que, conforme o próprio
Paulo dizia, não eram perfeitos. (Confira Gálatas 2.)
A
grande vantagem de ser diferente para Paulo foi que, quando uma crise
internacional de fome atingiu o Império Romano inteiro — inclusive as
igrejas de Paulo e as igrejas dos 12 apóstolos em Jerusalém —, as
igrejas dos 12 apóstolos na Judéia e Jerusalém começaram a passar fome,
enquanto que as igrejas de Paulo na Europa, atingidas pela mesma fome,
não só conseguiram ter forças durante a crise como também mandaram ajuda
para as igrejas dos 12 apóstolos.
Usando o Estado para impor sobre a sociedade um pervertido modelo apostólico de igreja?
Embora
os marxistas e seus aliados de rótulo cristão aleguem que o marxismo
nasceu na igreja primitiva, nenhum modelo comunista, marxista ou
socialista colocou apóstolos na liderança suprema do governo. Eles só
colocaram ditadores sanguinários. Esse modelo também violou
sistematicamente a integridade da família, ao pressionar as esposas a
entrar no mercado de trabalho e ao impor leis que obrigam as crianças a
ficar sob controle estatal através das escolas.
Com
genuínos apóstolos no governo, um sistema baseado na igreja primitiva
jamais cometeria tais abusos. Um sistema baseado no modelo da igreja
primitiva teria apóstolos na liderança. Com apóstolos na liderança, o
aborto não teria vez. O homossexualismo não teria vez. Escravidão
educacional estatal para as crianças não teria vez. Esposas obrigadas a
trabalhar fora por pressões de pérfidas políticas socialistas
anti-família não teria vez.
Mas,
em vez de uma real transferência do modelo apostólico para a esfera
secular, o que vemos é o contrário. O modelo socialista, que expulsa as
esposas e as crianças do lar para encaixá-las em metas socialistas, está
dominando as igrejas. Mas o sistema apostólico não está dominando no
mundo.
O
modelo secular da tão chamada redistribuição de bens, supostamente
baseado na igreja dos apóstolos, não respeita a autoridade apostólica,
não respeita as famílias, não respeita os bebês em gestação, etc.
Enquanto
o modelo apostólico era baseado no amor e na submissão dos membros à
autoridade apostólica, o sistema socialista não envolve amor, compaixão e
livre arbítrio, mas apenas uma suposta e forçada “compaixão” que
invariavelmente termina em injustiças, ódio e assassinatos.
A teocracia socialista tem base na Bíblia?
O
sistema socialista, com seus adeptos nominalmente cristãos que lhe
emprestam um alicerce fraudulentamente baseado na primeira igreja
apostólica, é nada mais do que uma teocracia pervertida, onde o deus
central é o Estado humanista como supremo provedor de todas as
necessidades humanas.
Essa
teocracia é o maior desafio para os homens desta geração que querem,
como Elias, servir a Deus numa sociedade onde todos, até mesmo muitos
que usam o nome de Deus, estão prostrados diante do moderno Baal
estatal, que impõe aborto e homossexualismo.
A
compaixão do socialismo rouba das pessoas, fortalece um Estado tirânico
e traz revoluções sangrentas (aborto, sexo livre e desenfreado, abusos
sexuais em massa de crianças, infanticídio, abolição da família,
abolição do papel da esposa, abolição da autoridade dos pais nas
decisões de educação e saúde dos filhos, etc.), forçando todos os
cidadãos a entregar seus recursos sob a alegação de que o Estado precisa
para ajudar os pobres.
A
compaixão de Deus não rouba de ninguém, não tem nada a ver com o Estado
e fortalece as famílias, o papel da esposa dentro do lar, o papel do
marido e pai, levando todos a contribuir, voluntariamente, para ajudar
os pobres.
A
teocracia socialista, que se veste de Estado laico, não tem compaixão
nenhuma das famílias e seus valores, e muito menos dos cristãos e seus
valores.
A
teocracia socialista é fruto do pai da mentira, que promete tudo e
finge compaixão, mas acaba sempre roubando, matando e destruindo.
Misericórdia sem misericórdia?
Ao
alegar que está imitando a igreja primitiva, os estatistas marxistas
violam uma separação necessária entre Estado e igreja, impondo sobre a
sociedade um modelo de “misericórdia” sem a mínima misericórdia, e
dispensando a necessidade indispensável de liderança apostólica cheia do
Espírito Santo na administração da misericórdia.
Misericórdia
e caridade forçadas não fazem parte de Deus e suas instruções na
Bíblia, mas são partes integrantes de todo sistema socialista. Quer
queiram ou não, todos são obrigados a pagar impostos mais elevados para
sustentar as políticas socialistas supostamente de “misericórdia e
caridade”. No plano de Deus, a misericórdia e a caridade dependem
exclusivamente do livre arbítrio do cidadão, que é livre para
contribuir, pois Deus não o obriga nem lhe cobra impostos para uma
misericórdia e caridade forçada. Deus não tem esse nível de tirania.
Quando
substitui as funções de misericórdia de Deus, da família e da igreja, o
Estado marxista comete um erro fatal — contra o povo, é claro. Não é a
toa que o comunismo — que alegadamente quer tudo em comum para todos —
tenha assassinado mais de 100 milhões de homens, mulheres e crianças.
O
modelo da igreja primitiva, que jamais foi seguido pelo apóstolo Paulo,
era livre. Não era estatal. Não era ideológico. Não era imposto pela
força da lei a todas as igrejas, muito menos a toda a sociedade. As
igrejas hoje que quiserem segui-lo, são livres. Mas o Estado não pode
impô-lo, nem tê-lo sem estabelecer primeiramente na liderança
governamental a devida autoridade apostólica cheia do Espírito Santo.
O
modelo apostólico não envolvia nenhuma ideologia feminista. Não
envolvia aborto. Não envolvia homossexualismo. Aliás, o assistencialismo
da igreja primitiva não era liderado diretamente pelos apóstolos.
Por
isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: “Não é certo
negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às
mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho,
cheios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos
dedicaremos à oração e ao ministério da palavra”. (Atos 6:2-4 NVI)
Tentar transferir para o Estado um modelo criado exclusivamente para determinada igreja beira à heresia.
Portanto,
a teocracia socialista tem de sofrer resistência de todos os cristãos
genuínos, que deveriam apoiar para o Estado o dever de seguir apenas
modelos de governo que não interfiram na esfera da igreja e das
famílias.
O Estado é a igreja?
O
Estado não deveria impor sobre a sociedade a conversão forçada dos
cidadãos ao Cristianismo. E o que os “cristãos” marxistas querem é muito
parecido: eles querem que o Estado force sobre a sociedade as decisões
particulares dos apóstolos que visavam exclusivamente a uma igreja
determinada, não a todas as igrejas e muito menos à sociedade secular.
Entretanto,
o mais importante é que o Estado que esses pseudo-cristãos querem não é
a imagem da igreja primitiva, por mais que aleguem ao contrário. Esse
Estado é a imagem das ideias de Platão, das ideias de Marx, das ideias
de Stalin.
O
modelo apostólico era voltado exclusivamente para a igreja, só
aceitando ajudar os mais pobres — que na época eram as viúvas — que
tivessem um currículo de bom testemunho (confira 1 Timóteo 5:3-16).
Viúvas desamparadas e outros pobres não cristãos não faziam parte
da assistência material apostólica. As viúvas cristãs desamparadas
precisavam preencher certos requisitos antes de serem aprovadas para
receber ajuda, pois os apóstolos eram muito criteriosos e seletivos.
Dentro das igrejas apostólicas, o simples rótulo de cristão não garantia
assistência material para as viúvas.
Deus aprova roubar em nome dos pobres?
O
que os cristãos marxistas fazem é apoiar sistemas de governos que, a
pretexto de ajudar os pobres, roubam, mediante políticas injustas de
impostos, o dinheiro dos cidadãos que trabalham.
Os apóstolos não roubavam nem nunca recorreram ao Estado ou ao estabelecimento de leis estatais para tirar os bens das pessoas.
Portanto,
usar o modelo apostólico de administração de igreja para sustentar um
sistema de governo que rouba em nome da compaixão é uma perversão da
missão da igreja e da missão do Estado.
A
missão da igreja — que são os cristãos lavados pelo Sangue de Jesus e
comprometidos com Ele — é pregar o Evangelho a todos e dar assistência
material aos pobres exclusivamente conforme o critério apostólico.
A missão do Estado é não interferir nem substituir a igreja nessas importantes funções.
A
missão do Estado é exclusivamente manter a ordem social e punir os
criminosos, preservando assim um ambiente social pacífico em que a
sociedade e a igreja possam desempenhar tranquilamente suas funções.
Eu
não sei bem como seria uma sociedade administrada pelos apóstolos. Mas
não seria uma sociedade com aborto e homossexualismo. Enquanto
“cristãos” da teologia marxista se mobilizam por qualquer político que
tenha como propaganda “ajudar os pobres”, os apóstolos seriam, como
sempre, criteriosos e seletivos. Eles não cometeriam o erro tão comum
dos “cristãos” marxistas de entregar populações inteiras a governantes
que, em nome de uma compaixão pelos pobres, impõem a tirania marxista,
com muito derramamento de sangue, ou por revoluções ou pelo aborto.
Teocracia socialista no Antigo ou Novo Testamento?
Os
juízos e cobranças de Deus contra o Estado de Israel no Antigo
Testamento são abundantemente usados pelos adeptos da teologia da missão
integral como prova de que Deus quer um Estado comprometido com sua
visão socialista. Mas há problemas sérios nessa interpretação. O Israel
do Antigo Testamento era teocrático e misturava e encarnava funções de
Estado e Igreja. Somente um Estado teocrático pode fazer essa mistura.
Contudo,
no Novo Testamento, o Apóstolo Paulo essencialmente “desteocratizou” o
Estado, reconhecendo-lhe apenas, conforme desígnio de Deus, a
responsabilidade de castigar os maus e elogiar os bons. Às igrejas fica a
responsabilidade de mostrar a compaixão e amor de Deus à sociedade,
inclusive atuando como consciência moral e profética do Estado,
nunca o usando para impor, em nome de uma misericórdia ou caridade
forçada, sobre a sociedade ideologias estranhas ao Evangelho. Às igrejas
também fica, conforme os rigorosos critérios apostólicos já
estabelecidos, a responsabilidade de dar ajuda material aos pobres
dentro da igreja.
A
teocracia socialista, com toda a sua pregação de compaixão pelos
pobres, sua obsessão pelo aborto e homossexualismo e roubo e controle
sistemático dos cidadãos através de iníquas políticas de impostos, não
espelha o modelo de administração que havia na igreja dos 12 apóstolos.
Não espelha também o coração de Deus, que quer que todo ato de ajuda aos
pobres, na igreja ou na sociedade, seja feito voluntariamente por amor,
não por força, violência ou impostos.
Nem
o Estado tem direito de tirar das pessoas o livre arbítrio de decidir
livremente o que fazer com o que ganham com seu trabalho. Afinal, por
mais que Deus ame os pobres, um dos Dez Mandamentos não é sobre ajudar
os pobres, mas uma proibição categórica de não se roubar. Uma proibição
que vale tanto para uma pessoa quanto para o Estado.
E
o primeiro mandamento não é “adorar o Estado acima de todas as coisas”.
É adorar a Deus acima de todas as coisas. Só isso já é suficiente para
mostrar que a pregação dos “cristãos” progressistas não tem nada a ver
com a pregação dos 12 apóstolos e de Paulo.
Só
isso já basta para tornar completamente desnecessário, ilegal e
criminoso todo sistema de governo baseado na teocracia socialista, que
coloca o Estado como supremo deus “compassivo” e provedor de tudo acima
do único e verdadeiro Deus compassivo e provedor de tudo.
Fonte: www.juliosevero.com
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