Teologia anti-Israel: um erro mortal
Michael Brown
A
ideia de que Deus não tem mais nada a ver com o povo judeu como nação e
que a igreja substituiu Israel no plano de Deus não só é um sério erro
teológico. É também um erro mortal.
Foi
essa falsa teologia que ajudou a inflamar as chamas do ódio aos judeus
num dos mais respeitados líderes da igreja primitiva, João Crisóstomo
(347-407), que certa vez disse: “Deus odeia os judeus, e no Dia do Juízo
dirá aos que simpatizam com eles: ‘Afastem-se de Mim, pois vocês têm
relações com Meus assassinos’! Fujam, então, das reuniões deles, fujam
das casas deles e tratem as sinagogas deles com ódio e aversão.”
Sem essa teologia falsa, as Cruzadas jamais ocorreriam 700 anos mais tarde.
Foi
essa falsa teologia que ajudou a inflamar as chamas do ódio aos judeus
no grande reformador Martinho Lutero (1483-1546), que deu este conselho
aos governantes alemães de sua época: “Primeiro, incendeiem as sinagogas
ou escolas deles… Segundo, aconselho que as casas deles sejam demolidas
e destruídas… Em vez disso, eles poderiam morar debaixo de um telhado
ou num celeiro, como os ciganos… Terceiro, aconselho que todos os livros
de orações e escritos de Talmude deles, em que são ensinados tais
idolatrias, mentiras, maldições e blasfêmias, lhes sejam tirados.
Quarto, aconselho que os rabinos deles sejam proibidos de ensinar de
agora em diante sob pena de perderam a integridade física.” (Para mais
exemplos, leia meu livro em inglês “Our Hands Are Stained With Blood” [Nossas Mãos Estão Manchadas de Sangue].)
As
palavras sanguinárias de Lutero foram implementadas por ninguém mais do
que o próprio Adolf Hitler, começando na noite de 9 de novembro de
1938, que é chamada de Krystallnacht, a Noite dos
Cristais Quebrados, quando, de acordo com o oficial nazista Reinhard
Heydrich, “815 lojas [judaicas] foram destruídas, 171 casas foram
incendiadas ou destruídas… 119 sinagogas foram incendiadas, e outras 76
foram completamente destruídas… 20.000 judeus foram presos, 36 mortes
foram registradas e os feridos graves foram também contados em 36.”
Tudo
isso foi consequência de uma teologia que estava totalmente errada
ajudando a justificar ações mortais. (Os nazistas obviamente não eram
cristãos, mas foram séculos de antissemitismo “cristão” na Europa que
ajudaram a possibilitar o Holocausto.)
Sem
dúvida, há cristãos excelentes hoje que adotam esse mesmo erro
teológico (chamado de teologia da substituição ou supersessionismo,
significando que a igreja substituiu ou suplantou Israel), e
definitivamente eles não são antissemitas e jamais aprovariam a
perseguição do povo judeu no nome de Jesus. E eles repudiam totalmente
declarações de ódio como as que acabei de citar acima.
Mas
o triste fato da história é que foi essa mesma teologia que abriu as
portas para séculos de antissemitismo “cristão” no passado, e está
ameaçando abrir essa porta horrível mais uma vez hoje.
Considerando a terceira conferência “Christ at the Checkpoint”
(Cristo no Posto de Controle) que ocorreu recentemente na antiga cidade
de Belém, onde questões como essas não foram apenas abstrações
teológicas, é importante recordar como uma teologia errada leva a ações
erradas.
De
acordo com Atos 1, depois que os discípulos haviam passado 40 dias com
Jesus depois de Sua ressurreição, falando com eles “sobre o Reino de
Deus” (v. 3), Seus seguidores dedicados queriam Lhe fazer mais uma
pergunta antes que Ele subisse ao céu.
Eles perguntaram: “Senhor, será este o tempo em que restaurarás o Reino a Israel?”
Ele
respondeu: “Não vos compete saber as épocas ou as datas que o Pai
estabeleceu por sua exclusiva autoridade. Contudo, recebereis poder
quando o Espírito Santo descer sobre vós, e sereis minhas testemunhas,
tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da
terra!” (versículos 6-8, KJA)
Em
outras palavras, essa é uma boa pergunta, e certamente faz sentido
considerando tudo o que vimos tratando, mas a hora certa em que isso
ocorrerá — quando Deus irá “restaurar o reino a Israel” — não é algo com
que devemos nos preocupar neste momento. Precisamos nos concentrar em
cumprir a Grande Comissão com a ajuda do poder do Espírito.
Mas
não foi desse jeito que João Calvino interpretou a resposta de Jesus.
Conforme o Dr. Paul R. Wilkinson comentou em seu livro em inglês “Understanding Christian Zionism”
(Compreendendo o Sionismo Cristão), Calvino declarou que “‘havia tantos
erros… quanto palavras na pergunta dos discípulos’ com relação à
restauração de Israel. Isso, ele cria, mostrava ‘como eles eram péssimos
estudiosos sob um Mestre tão bom,’ e portanto ‘quando ele [Jesus]
disse, recebereis poder, ele os admoestou acerca da imbecilidade
deles.’”
Wilkinson
também comenta: “Na 5ª Conferência Sabeel Internacional em 2004 [que
foi uma conferência antissionista], Mitri Raheb denunciou os discípulos
como homens ‘de mente muito estreita,’ ‘nacionalistas’ e ‘cegos’ por
fazerem tal pergunta.”
Para
ser sincero, interpretações desse tipo não são nada mais do que
bobagens exegéticas, colocando o texto bíblico de cabeça para baixo.
Por
exemplo, se os discípulos tivessem dito a Jesus, “Senhor, é este o
tempo para pegarmos espadas para decapitar nossos inimigos?” Ele não
teria respondido: “Não vos compete saber as épocas que o Pai determinou
para decapitardes. Concentrai-vos apenas na pregação do evangelho.”
Longe disso! Em vez disso, Ele os teria repreendido de forma muito clara.
Mas
não é isso o que Ele fez nesse ponto, apesar do fato de que Suas
palavras são constantemente interpretadas como se Ele tivesse dito:
“Seus idiotas! Vocês não sabem que não quero mais nada com Israel? Vocês
não sabem que a igreja substituiu Israel? Eu tenho estado com vocês há
tanto tempo e vocês ainda não entendem?”
Em
vez disso, Ele simplesmente lhes disse que não lhes competia saber o
tempo exato em que o Pai restauraria o reino a Israel (algo que Jesus,
Pedro e Paulo confirmaram; veja Mateus 19:28; Atos 3:19-21; Romanos
11:28-29; 15:8); a missão deles era serem testemunhas dEle.
Infelizmente,
em nossa época, enquanto estamos vendo um número crescente de cristãos
se voltando contra o moderno estado de Israel — e não quero dizer com
isso simplesmente que eles estão criticando Israel quando Israel merece
críticas, mas que eles estão rejeitando Israel como um cumprimento
profético em todo sentido da palavra, também adotando a versão palestina
de Israel como um ocupante maligno e afirmando que não resta nenhuma
promessa ao povo judeu como nação — estamos vendo as sementes do ódio
aos judeus sendo plantadas de novo no coração de muitos desses crentes. A
hostilidade deles a Israel mal dá para esconder.
Cuidado, povo de Deus!
A
história pode bem se repetir — para vergonha do nome de Jesus, para
vergonha da igreja e para prejuízo espiritual e físico do povo judeu —, a
menos que corrijamos nossa teologia.
Vocês foram avisados.
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