O que foi que fizeram com nosso querido Mackenzie?
Reflexões de um jovem calvinista conservador
Oscar Cavallieri*
Calvinismo
e Conservadorismo. Julgava que ambas as ideias andavam intimamente
juntas. Eu já era reformado. E também conservador, o que me tornava
completamente fora de moda. Desde a adolescência, eu já sabia que
socialismo era tão criminoso quanto o nazismo. Sabia que Che Guevara era
um falso messias. Que bandidos não são mocinhos.
Mas
viver num Brasil cultural e politicamente socialista é um tapa na cara o
tempo todo. Não é à toa que um conservador como eu se sinta como um
peixe fora d´água. Eu prefiro dizer que sou um peixe de água doce que
acabou, por algum estranho senso de humor do destino (ou da
predestinação), nascendo em águas salgadas e amargas, pois, no Brasil,
bandidos são transformados em mocinhos, quando não canonizados em
governantes. No Brasil, Che Guevara é o Jesus Cristo da juventude
universitária e Marx seu Deus-pai.
Como
jovem, tive desilusões em minha vida estudantil. Durante todo o ensino
médio resisti à doutrinação sistemática de que tudo é uma questão de
opressores e oprimidos na história: brancos vs. negros, europeus vs.
índios, senhores vs. escravos. Não entendo tudo, mas sabia que há algo
muito errado com essa história.
Logo
depois, ingressei numa faculdade de direito, onde meus colegas e eu
fomos doutrinados pelo positivismo e pelo marxismo desde o primeiro dia.
Resisti, porque meu cérebro — sempre fora da moda ideológica — alertava
que havia algo tremendamente errado nisso tudo. Não tardou para eu ser
chamado de porco capitalista pelos mais maconheiros (ops, mais
socialistas!) da sala. Quanto aos outros alunos, eles simplesmente me
viam como um “reacionário.” E assim passaram-se os cinco anos. Ao
término da faculdade, tomei uma decisão: “Agora quero estudar teologia
num lugar onde, com meus princípios, não serei um completo alienígena.”
Só pensei numa resposta: Mackenzie.
E assim começou 2014.
No
primeiro dia de aula fomos levados ao auditório, junto a todos os
demais calouros, onde uma Bíblia foi entregue para cada um. “Uau,”
pensei eu, “isso sim é que é uma instituição calvinista conservadora!”
Os reverendos presbiterianos fizeram as apresentações e um deles pregou
sobre Daniel na Babilônia, dizendo que o estudante pode e deve manter
sua fé e desvendar a ciência juntamente. “Uau,” pensei novamente. Em
seguida, anunciaram um show. Bem, é claro que minha expectativa era uma
banda do meio gospel. Afinal, estávamos numa universidade evangélica.
Fiquei chocado: o show foi dado por Nando Reis!
Nando Reis no Mackenzie. Foto tirada por Oscar Cavallieri |
No
segundo dia, tentei me recuperar, buscando explicações, com a cabeça
zonza: “Quem fez o tal discurso esquerdista foi o Nando Reis, e não
algum reverendo. Certamente, os reverendos também ficaram incomodados
com aquilo e vão dar um basta nisso.”
Dirigi-me
à sala e fomos levados a uma atividade dinâmica promovida por uma ONG.
Muito divertido e informativo. O nada divertido (mas ainda assim
informativo) foi o discurso do dirigente do diretório acadêmico (um
teólogo em formação) no final da atividade. Inicialmente ele mostrou uma
posição bastante liberal, e logo senti cheiro não apenas de teologia
liberal, mas também de teologia da libertação. E quando ele finalizou
dizendo que Sodoma e Gomorra foram destruídas não pelo homossexualismo,
mas porque negligenciavam amparo aos pobres e às viúvas, novo choque
para mim. Para esse aspirante a teólogo no Mackenzie, o problema do
homossexualismo é enfatizado demais na narrativa sobre a destruição das
cidades quando na verdade a causa foi outra…
Sentindo
náuseas com tal manifestação de liberalismo, fui pesquisar sobre a
relação entre Teologia da Missão Integral, Teologia da Libertação e
Mackenzie e levei um susto. Quase caí para trás ao ver, nos resultados
do Google, que problemas de esquerdismo no Mackenzie já estavam sendo
biblicamente tratados, ao ler na telinha de meu notebook as matérias
escritas por Julio Severo. Ao pesquisar em outros canais informativos,
inclusive da própria universidade, vejo que o blogueiro não estava
exagerando.
A
cada dia, realmente, a Universidade Presbiteriana Mackenzie tem se
tornado mais liberal e “libertadora” (no sentido de aderente à TMI). Os
dias vão passando e, nas aulas de teologia, venho percebendo essa mesma
visão esquerdista em alguns professores. E fico me perguntando: o que
foi que fizeram com nosso querido Mackenzie?
* Oscar Cavallieri é
um pseudônimo escolhido por um jovem estudante de teologia do Mackenzie
que queria apenas, como calvinista conservador, desabafar seus
sentimentos sobre os desafios anti-conservadores na famosa universidade
presbiteriana.
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