Será que Deus está agora do lado da Rússia?
Pat Buchanan: Putin está plantando bandeira firmemente do lado do Cristianismo tradicional
Patrick J. Buchanan
Ao
defender a atitude da Rússia de anexar a Crimeia, Vladimir Putin, mesmo
antes de começar a mostrar a lista das batalhas em que sangue russo
havia sido derramado em solo crimeio, falou de uma ligação mais antiga e
profunda.
Pat Buchanan: colunista do WND e ex-assessor do presidente Ronald Reagan |
A Rússia é um país cristão, Putin estava dizendo.
Esse
discurso nos faz lembrar o discurso de dezembro passado em que o
ex-diretor da KGB falou de uma Rússia assumindo uma posição contra um
Ocidente decadente:
“Muitos
países euro-atlânticos se afastaram de suas raízes, inclusive valores
cristãos. Querem políticas que colocam no mesmo nível uma família de
vários filhos e uma parceria homossexual, uma fé em Deus e uma crença em
Satanás. Essa é a rota para a decadência.”
Você ouviu algum líder ocidental (por exemplo, Barack Obama) falar desse jeito recentemente?
Culpando os “bolcheviques” que entregaram a Crimeia à Ucrânia, Putin declarou: “Que Deus os julgue.”
O que está acontecendo aqui?
Com
o marxismo-leninismo uma fé morta, Putin está dizendo que a nova luta
ideológica é entre um Ocidente depravado liderado pelos Estados Unidos e
um mundo tradicionalista que a Rússia teria orgulho de liderar.
Na nova guerra de convicções, Putin está dizendo, é a Rússia que está do lado de Deus. O Ocidente é Gomorra.
Os
líderes ocidentais que comparam a anexação de Putin da Crimeia ao
Anschluss de Hitler com a Áustria, que o desprezam como um “criminoso da
KGB,” que o chamam de “alegado ladrão, mentiroso e assassino que
governa a Rússia,” como fez Holman Jenkins do Wall Street Journal, creem que a afirmação de Putin de que a Rússia tem fundamento moral mais elevado é para lá de blasfêmia.
Mas
Vladimir Putin sabe exatamente o que está fazendo, e sua nova afirmação
tem uma linhagem respeitável. Whittaker Chambers, americano
ex-comunista que desmascarou Alger Hiss como um espião soviético,
estava, na época de sua morte em 1964, escrevendo um livro sobre a
“Terceira Roma.”
A
primeira Roma foi a Cidade Santa e a sede do Cristianismo que caiu nas
mãos de Odoacro e seus bárbaros em 476 A.D. A segunda Roma foi
Constantinopla, Bizâncio (a Istambul de hoje), que caiu nas mãos dos
turcos em 1453. A cidade sucessora de Bizâncio, a Terceira Roma, a
última Roma dos velhos crentes, era — Moscou.
Putin
está vindo com uma afirmação de que Moscou é a Cidade Santa de hoje e
posto de comando da contrarreforma contra o novo paganismo.
Putin
está ganhando acesso a algumas das correntes mais poderosas do mundo
moderno. Não só em sua resistência ao que boa parte do mundo vê como o
empenho arrogante dos Estados Unidos de obter a hegemonia mundial. Não
só em sua defesa tribal dos russos perdidos deixados para trás quando a
URSS se desintegrou.
Ele
está também tirando vantagem da repulsa e resistência mundial ao esgoto
da revolução social e secular hedonista que está vindo do Ocidente.
Na
guerra cultural pelo futuro da humanidade, Putin está plantando a
bandeira da Rússia firmemente do lado do Cristianismo tradicional. Seus
recentes discursos carregam ecos de João Paulo II cuja encíclica Evangelho da Vidaem 1995 condenou o Ocidente por adotar uma “cultura da morte.”
O que o Papa João Paulo queria dizer com crimes morais?
A
capitulação do Ocidente diante de uma revolução sexual de divórcio
fácil, promiscuidade sexual desenfreada, pornografia, homossexualidade,
feminismo, aborto, “casamento” homossexual, eutanásia, suicídio
assistido — a destituição dos valores cristãos pelos valores de
Hollywood.
Anne Applebaum, colunista do Washington Post,
escreve que ficou impressionada quando na cidade de Tbilisi [capital da
Geórgia] ouviu um advogado georgiano declarar acerca do governo
anterior pró-Ocidente de Mikhail Saakashvili, “Eles eram LGBT.”
“Foi
um momento de revelação,” escreveu Applebaum. Medo e nojo da epidemia
de “casamento” homossexual estão agora presentes no mundo inteiro. Em
Paris, um milhão de pessoas marcharam em protestos de revolta em favor
da moralidade.
A
escritora Masha Gessen, que escreveu um livro sobre Putin, diz de seus
dois últimos anos: “A Rússia está se refazendo como líder do mundo
anti-Ocidente.”
Mas
a guerra a ser travada com o Ocidente não será com mísseis. É uma
guerra cultural, social e moral em que o papel da Rússia, nas palavras
de Putin, deverá “impedir um movimento de atraso e decadência que está
levando à escuridão e à volta a um estado primitivo.”
Seria essa a “escuridão caótica” e “estado primitivo” da humanidade, antes que a Luz viesse ao mundo?
Fiquei
espantado ao ler no boletim de janeiro-fevereiro da entidade
conservadora social Congresso Mundial de Famílias em Rockford, Ill.,
que, das “10 melhores tendências” no mundo em 2013, a número 1 era que a
“Rússia Está Emergindo como Líder Pró-Família.”
Em
2013, o Kremlin impôs uma proibição na propaganda homossexual, uma
proibição na propaganda de aborto, uma proibição em abortos depois da
12ª semana e uma proibição em insultos sacrílegos a crentes religiosos.
“Enquanto
as outras superpotências estão marchando em direção a uma cosmovisão
pagã,” escreve Allan Carlson, do CMF, “a Rússia está defendendo os
valores judaico-cristãos. Durante a era soviética, os comunistas
ocidentais iam em bandos para Moscou. Neste ano, o Congresso Mundial de
Famílias VII será realizado em Moscou de 10 a 12 de setembro.”
Será que Vladimir Putin dará o discurso principal?
Na nova Guerra Fria ideológica, de que lado Deus está agora?
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