sexta-feira, 11 de abril de 2014


Será que Deus está agora do lado da Rússia?

Pat Buchanan: Putin está plantando bandeira firmemente do lado do Cristianismo tradicional

Patrick J. Buchanan
Ao defender a atitude da Rússia de anexar a Crimeia, Vladimir Putin, mesmo antes de começar a mostrar a lista das batalhas em que sangue russo havia sido derramado em solo crimeio, falou de uma ligação mais antiga e profunda.
Pat Buchanan: colunista do WND e ex-assessor do presidente Ronald Reagan
A Crimeia, disse Putin, “é o lugar dos antigos quersonesos, onde o príncipe Vladimir foi batizado. O corajoso ato dele adotar o Cristianismo ortodoxo predeterminou a base geral da cultura, civilização e valores humanos que unem os povos da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia.”
A Rússia é um país cristão, Putin estava dizendo.
Esse discurso nos faz lembrar o discurso de dezembro passado em que o ex-diretor da KGB falou de uma Rússia assumindo uma posição contra um Ocidente decadente:
“Muitos países euro-atlânticos se afastaram de suas raízes, inclusive valores cristãos. Querem políticas que colocam no mesmo nível uma família de vários filhos e uma parceria homossexual, uma fé em Deus e uma crença em Satanás. Essa é a rota para a decadência.”
Você ouviu algum líder ocidental (por exemplo, Barack Obama) falar desse jeito recentemente?
Culpando os “bolcheviques” que entregaram a Crimeia à Ucrânia, Putin declarou: “Que Deus os julgue.”
O que está acontecendo aqui?
Com o marxismo-leninismo uma fé morta, Putin está dizendo que a nova luta ideológica é entre um Ocidente depravado liderado pelos Estados Unidos e um mundo tradicionalista que a Rússia teria orgulho de liderar.
Na nova guerra de convicções, Putin está dizendo, é a Rússia que está do lado de Deus. O Ocidente é Gomorra.
Os líderes ocidentais que comparam a anexação de Putin da Crimeia ao Anschluss de Hitler com a Áustria, que o desprezam como um “criminoso da KGB,” que o chamam de “alegado ladrão, mentiroso e assassino que governa a Rússia,” como fez Holman Jenkins do Wall Street Journal, creem que a afirmação de Putin de que a Rússia tem fundamento moral mais elevado é para lá de blasfêmia.
Mas Vladimir Putin sabe exatamente o que está fazendo, e sua nova afirmação tem uma linhagem respeitável. Whittaker Chambers, americano ex-comunista que desmascarou Alger Hiss como um espião soviético, estava, na época de sua morte em 1964, escrevendo um livro sobre a “Terceira Roma.”
A primeira Roma foi a Cidade Santa e a sede do Cristianismo que caiu nas mãos de Odoacro e seus bárbaros em 476 A.D. A segunda Roma foi Constantinopla, Bizâncio (a Istambul de hoje), que caiu nas mãos dos turcos em 1453. A cidade sucessora de Bizâncio, a Terceira Roma, a última Roma dos velhos crentes, era — Moscou.
Putin está vindo com uma afirmação de que Moscou é a Cidade Santa de hoje e posto de comando da contrarreforma contra o novo paganismo.
Putin está ganhando acesso a algumas das correntes mais poderosas do mundo moderno. Não só em sua resistência ao que boa parte do mundo vê como o empenho arrogante dos Estados Unidos de obter a hegemonia mundial. Não só em sua defesa tribal dos russos perdidos deixados para trás quando a URSS se desintegrou.
Ele está também tirando vantagem da repulsa e resistência mundial ao esgoto da revolução social e secular hedonista que está vindo do Ocidente.
Na guerra cultural pelo futuro da humanidade, Putin está plantando a bandeira da Rússia firmemente do lado do Cristianismo tradicional. Seus recentes discursos carregam ecos de João Paulo II cuja encíclica Evangelho da Vidaem 1995 condenou o Ocidente por adotar uma “cultura da morte.”
O que o Papa João Paulo queria dizer com crimes morais?
A capitulação do Ocidente diante de uma revolução sexual de divórcio fácil, promiscuidade sexual desenfreada, pornografia, homossexualidade, feminismo, aborto, “casamento” homossexual, eutanásia, suicídio assistido — a destituição dos valores cristãos pelos valores de Hollywood.
Anne Applebaum, colunista do Washington Post, escreve que ficou impressionada quando na cidade de Tbilisi [capital da Geórgia] ouviu um advogado georgiano declarar acerca do governo anterior pró-Ocidente de Mikhail Saakashvili, “Eles eram LGBT.”
“Foi um momento de revelação,” escreveu Applebaum. Medo e nojo da epidemia de “casamento” homossexual estão agora presentes no mundo inteiro. Em Paris, um milhão de pessoas marcharam em protestos de revolta em favor da moralidade.
A escritora Masha Gessen, que escreveu um livro sobre Putin, diz de seus dois últimos anos: “A Rússia está se refazendo como líder do mundo anti-Ocidente.”
Mas a guerra a ser travada com o Ocidente não será com mísseis. É uma guerra cultural, social e moral em que o papel da Rússia, nas palavras de Putin, deverá “impedir um movimento de atraso e decadência que está levando à escuridão e à volta a um estado primitivo.”
Seria essa a “escuridão caótica” e “estado primitivo” da humanidade, antes que a Luz viesse ao mundo?
Fiquei espantado ao ler no boletim de janeiro-fevereiro da entidade conservadora social Congresso Mundial de Famílias em Rockford, Ill., que, das “10 melhores tendências” no mundo em 2013, a número 1 era que a “Rússia Está Emergindo como Líder Pró-Família.”
Em 2013, o Kremlin impôs uma proibição na propaganda homossexual, uma proibição na propaganda de aborto, uma proibição em abortos depois da 12ª semana e uma proibição em insultos sacrílegos a crentes religiosos.
“Enquanto as outras superpotências estão marchando em direção a uma cosmovisão pagã,” escreve Allan Carlson, do CMF, “a Rússia está defendendo os valores judaico-cristãos. Durante a era soviética, os comunistas ocidentais iam em bandos para Moscou. Neste ano, o Congresso Mundial de Famílias VII será realizado em Moscou de 10 a 12 de setembro.”
Será que Vladimir Putin dará o discurso principal?
Na nova Guerra Fria ideológica, de que lado Deus está agora?

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