terça-feira, 29 de setembro de 2009

GERTRUDE E OLEGÁRIO

Ricardo Gondim.

- Cale sua boca, Gertrude! Não quero ouvir o que você tem pra me dizer.
- Olegário, como você torra minha paciência e me deixa louca.
- Sabe qual o nosso problema, Gertrude?
- Qual? É o que mais quero saber...
-Você advinha o que vou falar... Parece com Deus, que conhece minhas palavras antes que saiam da boca.
-Você delira feito um doido, meu santo. Nunca escuta o que digo, só o que quer ouvir.
- Ah que santinha chata! A Gertrude consegue tirar qualquer um do sério. Pensa que não me lembro das suas exatas palavras? Eu registrei tudo com estes dois ouvidos que ainda vão ressuscitar. Já cansei de suas ladainhas.
-Quais? Se você queria me magoar, conseguiu. Eu esperava de sua parte, exatamente o que acabei de ouvir.
-E o que foi que eu acabei de falar? Repita... Sabe qual o seu problema? Você é que não me escuta. À medida que falo, a inteligentíssima Gertrude desliga, esperando me fuzilar com um próximo argumento.
- Olegário, Olegário, que baixaria a sua. Saiba, queridinho, que dois monólogos não fazem um diálogo. Quando eu falo, percebo que você nem presta atenção... Por que não olha nos meus olhos?
- Pare de me chamar assim. Acabou o tempo em que eu era o seu Gagá? Sinceramente, que baixaria! Quanta tristeza, perceber esses seus joguinhos sentimentalóides...
- Que baixaria, o quê seu idiota? Você se denuncia. Eis um homen que só trata os outros com preconceitos. Por que você não se comporta como alguém maduro?
- Já que você desceu o nível, vamos lá... O motivo desse bate boca é porque estou magoado com você desde aquela noite, dois anos atrás.
- Mas depois de tanto tempo, só agora numa hora dessas, menciona aquele assunto? Além de todo o stresse, estou arrasada. Olegário?, como alguém pôde dissimular por tanto tempo?
- Eu engolia seco pelo bem de nosso casamento. Mas cansei!
- Falso! Para mim chega. Quero o divórcio. Saia de casa agora mesmo. Aliás, Mário vai já passar por aqui para me levar para passear, preciso espairecer.
- Eu já ia mesmo dar a notícia; agora, não tem mais jeito. É o seguinte: Faz dois meses que montei um apartamento; à noite, levo minhas últimas roupas.
- Nunca mais me dirija a palavra. Com cínicos, só converso na presença do meu advogado.