Qualquer pessoa pode se tornar um fariseu
O germe do farisaísmo está dentro de nós. O dualismo carne x espírito. Para o apóstolo Paulo era uma guerra entre duas forças opostas (Gl. 5. 17), era o terrível dilema da condição humana. Os judeus tinham uma doutrina de “yetser hatobh e yetser hara”, a natureza boa e a má. Essa ideia era de que havia no homem duas naturezas, o que deixava esse homem na condição de um ser sempre atraído para duas direções ao mesmo tempo.
Esse conflito é, na verdade, o nosso “inimigo implacável”, inclusive por seu caráter de intimidade, secreto. No mito do Fedro, Platão descreve a alma como o carroceiro cuja tarefa é dirigir em arreios duplos, dois cavalos, um dos quais é “nobre e de raça nobre”, e o outro é “o oposto na raça e no caráter”. O cavalo nobre é a razão e o cavalo indócil é a paixão; o cavalo de natureza má “sobrecarrega o carro”, e o arrasta para a terra.
Os romanos também expressaram esse conflito em sua literatura, Ovídio, deu seu famoso suspiro de frustração: “Vídeo meliora, proboque; deteriora sequor” (“Vejo as coisas melhores, e concordo com elas, mas sigo as piores”). Sêneca escreveu: “Os homens amam e odeiam seus vícios ao mesmo tempo”. Por essas e outras ideias, a tendência maior foi colocar o corpo como o mal, Filolao, escreveu que “o corpo é uma casa de detenção onde a alma é aprisionada para expiar seu pecado”.
O mundo antigo era repleto de uma atitude de horror ao corpo, uma guerra que o declarava como prisão da alma. O pensamento platônico era de que o convívio com o corpo perturba a alma e a impede de atingir a verdade e a sabedoria. Esse conflito chega ao Novo Testamento com toda a sua acidez, tanto que Jesus trabalha todo o Sermão da Montanha (Mt. 5-7) no âmbito da interioridade, uma vez que os fariseus trabalhavam a exterioridade.
Essa tensão da existência acaba contribuindo para uma busca da autocompreensão, uma peregrinação à intimidade, onde nos achamos e nos perdemos nos realizamos e nos anulamos quase que na mesma proporção e violência.
O homem e seus conflitos interiores
Somente uma vida santificada, orientada pelo Espírito é capaz de olhar esse conflito de frente. Essa vida no Espírito é tão significativa, determinante e essencial ao cristão que o próprio Cristo foi e é nosso maior exemplo.
A síntese perfeita desse conflito está na cruz. Tanto as miserabilidades humanas quanto a graça de Deus se encontram e se concretizam. A cruz é o encontro que resolve o conflito. Ela propaga a espiritualidade do encontro. No Cristo crucificado morre também a hegemonia monstruosa do pecado, e no Cristo ressuscitado nasce toda a plenitude de uma vida no Espírito, pelo Espírito, para o Espírito, com o Espírito e em Espírito.
A partir das inquietações humanas, o homem, principalmente o homem pós-moderno, é levado a constantes encontros/desencontros provocadores de toda a desconstrução do projeto humano e suas ânsias. Por isso é que afirmo: qualquer um de nós pode se tornar um fariseu!
Para que possamos compreender o alcance do pensamento paulino na problemática da carne e na teologia do Espírito, é necessário o mergulho nas inquietações humanas e em toda a gênese do conflito do ser.
Paulo: um ex-fariseu fazendo a radiografia do farisaísmo
Uma das palavras que Paulo utiliza para “carne” é a palavra grega sarx. Esta é uma das palavras características do apóstolo, uma das que mais percorrem suas cartas, especialmente a carta aos Romanos, aos Gálatas e aos Coríntios.
Esse conflito é, na verdade, o nosso “inimigo implacável”, inclusive por seu caráter de intimidade, secreto. No mito do Fedro, Platão descreve a alma como o carroceiro cuja tarefa é dirigir em arreios duplos, dois cavalos, um dos quais é “nobre e de raça nobre”, e o outro é “o oposto na raça e no caráter”. O cavalo nobre é a razão e o cavalo indócil é a paixão; o cavalo de natureza má “sobrecarrega o carro”, e o arrasta para a terra.
Os romanos também expressaram esse conflito em sua literatura, Ovídio, deu seu famoso suspiro de frustração: “Vídeo meliora, proboque; deteriora sequor” (“Vejo as coisas melhores, e concordo com elas, mas sigo as piores”). Sêneca escreveu: “Os homens amam e odeiam seus vícios ao mesmo tempo”. Por essas e outras ideias, a tendência maior foi colocar o corpo como o mal, Filolao, escreveu que “o corpo é uma casa de detenção onde a alma é aprisionada para expiar seu pecado”.
O mundo antigo era repleto de uma atitude de horror ao corpo, uma guerra que o declarava como prisão da alma. O pensamento platônico era de que o convívio com o corpo perturba a alma e a impede de atingir a verdade e a sabedoria. Esse conflito chega ao Novo Testamento com toda a sua acidez, tanto que Jesus trabalha todo o Sermão da Montanha (Mt. 5-7) no âmbito da interioridade, uma vez que os fariseus trabalhavam a exterioridade.
Essa tensão da existência acaba contribuindo para uma busca da autocompreensão, uma peregrinação à intimidade, onde nos achamos e nos perdemos nos realizamos e nos anulamos quase que na mesma proporção e violência.
O homem e seus conflitos interiores
Somente uma vida santificada, orientada pelo Espírito é capaz de olhar esse conflito de frente. Essa vida no Espírito é tão significativa, determinante e essencial ao cristão que o próprio Cristo foi e é nosso maior exemplo.
A síntese perfeita desse conflito está na cruz. Tanto as miserabilidades humanas quanto a graça de Deus se encontram e se concretizam. A cruz é o encontro que resolve o conflito. Ela propaga a espiritualidade do encontro. No Cristo crucificado morre também a hegemonia monstruosa do pecado, e no Cristo ressuscitado nasce toda a plenitude de uma vida no Espírito, pelo Espírito, para o Espírito, com o Espírito e em Espírito.
A partir das inquietações humanas, o homem, principalmente o homem pós-moderno, é levado a constantes encontros/desencontros provocadores de toda a desconstrução do projeto humano e suas ânsias. Por isso é que afirmo: qualquer um de nós pode se tornar um fariseu!
Para que possamos compreender o alcance do pensamento paulino na problemática da carne e na teologia do Espírito, é necessário o mergulho nas inquietações humanas e em toda a gênese do conflito do ser.
Paulo: um ex-fariseu fazendo a radiografia do farisaísmo
Uma das palavras que Paulo utiliza para “carne” é a palavra grega sarx. Esta é uma das palavras características do apóstolo, uma das que mais percorrem suas cartas, especialmente a carta aos Romanos, aos Gálatas e aos Coríntios.
A sarx (carne) é a inimiga mortal do pneuma (espírito). São duas forças opostas dentro da experiência humana. Paulo usa a palavra com o sentido de que viver na carne é exatamente o inverso de ser um cristão (Rm. 8. 9, 12). Estar na carne é estar sujeito ao pecado (Rm. 7. 14). Nesse ponto, ser dominado pela carne e ser escravo do pecado são a mesma coisa. O farisaísmo nasce dentro de seres carnais, seres que, apesar de “confessarem” a Cristo, vivem sob o legalismo asfixiante, que anula a obra da cruz.
Na carne não habita nada de bom (Rm. 7. 18), aqui reside a diferença entre corpo e carne (soma e sarx), o corpo pode tornar-se instrumento do serviço e da glória de Deus, porém a carne não pode; o corpo pode ser purificado e até mesmo glorificado, contudo a carne deve ser eliminada e erradicada. Essa batalha é a mais impressionante de todas, pois ocorre nos domínios da intimidade, nas dependências mais secretas do homem. O fariseu vive acorrentado à prisão da sarx, por isso rejeita qualquer aproximação ou exortação que ele não julgue ideal.
A carne é o inimigo íntimo, aquele que fica do lado de dentro abrindo o caminho para o inimigo que quer convite para também arrasar nossa interioridade, o inimigo que está forçando a porta. Ela é aquilo que o homem fez de si mesmo, seu próprio desastre, sua própria tragédia, em contraste com o homem conforme Deus o fez. É o homem em conformidade com aquilo que permitiu que viesse a ser, em contraste com o homem conforme Deus pretendeu que ele fosse.
A carne é o inimigo íntimo, aquele que fica do lado de dentro abrindo o caminho para o inimigo que quer convite para também arrasar nossa interioridade, o inimigo que está forçando a porta. Ela é aquilo que o homem fez de si mesmo, seu próprio desastre, sua própria tragédia, em contraste com o homem conforme Deus o fez. É o homem em conformidade com aquilo que permitiu que viesse a ser, em contraste com o homem conforme Deus pretendeu que ele fosse.
A carne é a natureza humana conforme se tornou através do pecado. Ela é o homem em desesperado estado de contradição. Qualquer pessoa pode se tornar um fariseu. Portanto, cuidado!
Até mais...
Alan Brizotti
Prs Darci e Miriam Francisco
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