quinta-feira, 23 de outubro de 2014


Venezuela, Foro de São Paulo, EUA, petróleo e outras questões para um conservador pensante

Julio Severo
“O Brasil se tornará uma Venezuela se votarmos em determinado partido,” é o que dizem muitos brasileiros desesperados.
O que foi necessário para que a Venezuela se tornasse o que é hoje? Mais de 90 por cento dos venezuelanos são católicos e, como todo o resto da Igreja Católica na América Latina, grandemente afetados pela Teologia da Libertação. O que então de longe mais facilitou a expansão do esquerdismo na América Latina não foi o Foro de São Paulo, mas a Teologia da Libertação e seus milhares de padres e bispos militantes vermelhos.
Se o Vaticano tivesse conseguido se impor contra o comunismo de seus padres e líderes latino-americanos, o Foro de São Paulo secaria em questão de poucos meses.
Mas o caso da Venezuela é mais complexo. Embora a Igreja Católica da Venezuela tenha falhado gravemente ao dar espaço para a Teologia da Libertação, houve, porém, uma grande oportunidade de matar todo o financiamento do comunismo de Hugo Chávez. Contudo, quem tinha poder de fazer isso nunca o fez.
Chávez elegeu-se no final de década de 1990, durante o governo de Bill Clinton, presidente esquerdista, abortista e homossexualista dos EUA.
Chávez continuou governando e expandindo seu comunismo na Venezuela e outros países latino-americanos durante o governo de outros presidentes americanos. Essa expansão foi sustentada pelos bilhões de dólares vindo da exportação de petróleo.
Não, o maior comprador do petróleo da Venezuela não era Cuba nem o Foro de São Paulo. Eram e continuam a ser os Estados Unidos.
Os governos americanos de Clinton, George Bush e Barack Obama sempre tiveram chance de dar uma paulada na expansão do comunismo na Venezuela, mas provavelmente achavam que a compra de petróleo era muito mais importante do que exterminar o comunismo.
Essa ganância por petróleo colocou bilhões de dólares nas mãos de Hugo Chávez, que usou para os interesses do Foro de São Paulo. Na prática, uma meta comunista com financiamento de vários governos (esquerdistas e conservadores) dos EUA.
Quero deixar claro que, fiel aos meus princípios pró-vida, sempre fui apoiador de Bush, que era contra a agenda abortista e homossexualista. Ele não era um defensor de Israel como era Reagan, mas pelo menos ele defendia interesses pró-família.
Quando Bush visitou o Brasil em 2007, a Globo me procurou para uma entrevista porque, de acordo com a jornalista, eu era um dos poucos brasileiros que apoiavam o presidente americano.
Se ele fosse candidato presidencial no Brasil, eu votaria nele apenas pelas credenciais pró-vida. Nessas credenciais, ele seria, de longe, melhor do que os candidatos presidenciais covardes e entreguistas do Brasil.
Mas Bush falhou feio. Quando terroristas sauditas atacaram o World Trade Center em 11 de setembro de 2001, Bush deveria, por obrigação moral, ter invadido a Arábia Saudita, não o Iraque.
Possivelmente, o que pesou nessa decisão impensada era que a Arábia Saudita era aliada dos EUA — e grande fornecedora de petróleo aos americanos.
Possivelmente nem fosse ideia do Bush invadir o Iraque para colocar seus poços de petróleo na órbita comercial dos EUA. Talvez fosse ideia dos neocons — neoconservadores americanos, que defendem a supremacia econômica e militar dos EUA custe o que custar — que dominam o governo dos EUA. Nesse caso, sob o peso dessa elite perigosa, Bush não tinha escolha.
No caso da Venezuela, os mesmos interesses podem ter pesado. Custa-me crer que Bush não sabia que os bilhões de dólares que os EUA davam para Hugo Chávez em troco de petróleo não estavam sendo investidos na expansão do comunismo e do Foro de São Paulo.
Se eu fosse presidente dos EUA, ordenaria a imediata cessação desse financiamento.
Talvez as elites neocons tenham dito para Bush: “Aqui quem manda somos nós. Queremos o petróleo venezuelano e que se dane quem está governando naquele país. Você pode ser pró-vida ou pró-aborto na Casa Branca, mas nas outras questões quem manda somos nós, entendido?”
Como sou um conservador pensante, sou obrigado a pensar que a única explicação para tanto financiamento americano para o comunismo venezuelano foi porque Bush foi obrigado pelos neocons.
Claro que no caso de Clinton e Obama, que são socialistas, tais pressões eram desnecessárias.
Mas fico sempre me perguntando se o Cristianismo de Bush nunca falou na consciência dele sobre essas questões.
Hugo Chávez elogiava Obama, que manteve os EUA no papel vergonhoso de principal comprador do petróleo venezuelano.
Mas para Bush, Chávez nunca dava elogios. Chávez chamava Bush publicamente, até mesmo na ONU, de “demônio.” Mesmo assim, Bush continuava a maldita tradição americana de maior comprador do petróleo venezuelano.
Para um cristão conservador pensante, essa situação não faz sentido. Se Chávez era antiamericano ao ponto de xingar um bom presidente dos EUA, por que ele simplesmente não tomava a decisão de parar de vender seu petróleo para os EUA?
Se os xingamentos de Chávez contra Bush eram um incômodo para os americanos, por que os EUA nunca pararam de comprar o petróleo venezuelano?
Se o Foro de São Paulo e a expansão do comunismo na América Latina eram uma preocupação para Bush e outras autoridades conservadoras americanas, por que os EUA nunca pararam de financiar tudo isso com a simples atitude de abandonar sua posição de maior comprador do petróleo venezuelano?
Só havia dois modos fatais de acabar com o comunismo na Venezuela: 1) Fidelidade de todo o clero católico venezuelano às diretrizes anticomunistas do Vaticano — mas isso nunca aconteceu. 2) Pelo bolso: bastava que o governo dos EUA cortasse a principal fonte de renda venezuelana, que é a venda de petróleo — mas os EUA nunca fizeram isso.
Dói muito ser um conservador pensante! Eu me sentia mais tranquilo quando era um conservador que não pensava.

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