Depois que postei o texto
O futebol e a religião,
muitos irmãos e irmãs me escreveram fazendo perguntas sobre assuntos
relacionados a como deve ser o comportamento do cristão ante uma série
de questões relacionadas à Copa do Mundo e aos protestos que vêm
ocorrendo pelo país. Normalmente eu evito que as reflexões que
compartilho no APENAS sejam pautadas pelo que está nas manchetes dos
jornais, mas, desta vez, entendo que vale a pena compartilhar
pensamentos sobre um dos temas que mais me foram perguntados: os
xingamentos que a presidenta Dilma sofreu no jogo de abertura da
competição, de Brasil contra a Croácia. Pois esse é um assunto
importante e que está diretamente ligado a duas questões bíblicas
fundamentais: o respeito à autoridade e o amor ao próximo. Afinal, a
insatisfação com atitudes de nossos superiores hierárquicos nos permite
reagir a eles com ímpeto semelhante ao demonstrado no Itaquerão?
Não.
E gostaria de explicar por quê.
O
episódio reflete uma característica dos nossos tempos. Vivemos uma
época de total desrespeito pela autoridade, seja ela qual for. Filhos
têm desrespeitado os pais. Esposas têm desrespeitado os maridos. Alunos
têm desrespeitado professores. Empregados têm desrespeitado patrões.
Cidadãos têm desrespeitado seus governantes. O desrespeito tem ido muito
além de apenas não acatar as decisões, ele se manifesta em ofensas,
agressões, confrontos e, até, ameaças. É sempre bom lembrar que a
rebelião contra a autoridade foi o que levou Satanás a ser expulso da
presença de Deus e a ser condenado ao lago de fogo e enxofre por toda a
eternidade. Insubmissão e desrespeito pelos superiores hierárquicos são
consequência de arrogância, postura sobre a qual a Bíblia afirma:
"Os arrogantes não permanecerão à tua vista; aborreces a todos os que praticam a iniqüidade" (Sl 5.5) (veja mais sobre arrogância clicando
aqui).
Essa arrogância nada mais é do que sinal de que vivemos os últimos dias, como Paulo profetizou dois milênios atrás: "Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais,
ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem
domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos,
enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de
piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes" (2Tm
3.1-5).
Nessa passagem há uma referência direta a um dos Dez Mandamentos, que fala do respeito e da obediência à autoridade paterna:
"Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá" (Êx 20.12).
O século 21 tem sido marcado por uma geração de filhos rebeldes, que
destratam pai e mãe, não acatam suas determinações, se consideram
independentes daqueles que os criaram. Não é de se estranhar, portanto,
que o desrespeito exercido no lar seja repetido em relação a outras
autoridades - no trabalho, na igreja, na sociedade, na nova família. E
isso é gravíssimo. Se você não tem honrado seu pai ou sua mãe, saiba que
incorre em um pecado perigoso - a despeito de eles merecerem ou não o
respeito; o mandamento não é condicional.
E
aqui chegamos a um ponto essencial. Um dos grandes problemas de nossos
dias se refere à ideia equivocada de que só devemos cumprir as ordens
divinas "se". Como assim? "Só vou respeitar meu marido se ele fizer isso e aquilo"; "Só respeitarei meu patrão se..."; "Só respeitarei o governante se...".
Mas a Bíblia não põe "se" nessa história. Devemos honrar pai e mãe
independentemente de eles merecerem. As esposas devem se submeter ao
marido independentemente de ele amá-las como Cristo amou a Igreja. Os
empregados devem obedecer os patrões independentemente de eles serem
gente fina. Os cidadãos devem ser respeitosos aos governantes
independentemente de concordarem politicamente com suas decisões. O
único "se" bíblico à autoridade é caso ela esteja obrigando você a fazer
algo que contraria a vontade de Deus. Assim, não devem ser acatados
arbítrios, por exemplo, de maridos que propõem práticas sexuais
ilícitas, patrões que exigem de você atitudes fraudulentas ou desonestas
no trabalho, leis que obrigam a fazer o contrário do que está nas
Escrituras. A Lei de Deus sempre vem antes da lei dos homens, justamente
porque sua autoridade é superior.
Mas
nada justifica o desrespeito. Cristo demonstrou isso na prática. Repare
que Jesus em momento algum de seu julgamento desrespeita Pilatos ou os
mestres da lei e os sacerdotes. Esse é o xis da questão. Nossa postura
deve ser sempre de muito respeito. O que fizeram com a presidenta da
república foi uma desonra ao ser humano que ela é e ao cargo que ocupa
de forma legítima e democrática - e isso independentemente de
concordarmos ou não com seu governo e suas ações. E entenda que isso não
tem absolutamente nada a ver com política ou com apoiar o partido de
que ela faz parte, tem a ver com a Bíblia. Nada justifica aquela
barbaridade. Você quer agir conforme a vontade de Deus mas não está
satisfeito com o governo? Então, o que você deve fazer é, primeiro,
orar:
"Antes de tudo, pois, exorto que se
use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em
favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham
investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com
toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso
Salvador" (1Tm 2.1-3). Em seguida, pode fazer duas coisas: manifestar-se de forma pacífica e/ou expor seu protesto nas urnas, por meio do seu voto.
Xingar
com aquele nível de agressividade e ofensa é algo inadmissível da parte
de qualquer ser humano e para qualquer ser humano. Foi um ato que de
cristão não tem nada - logo, foi satânico.
"O
Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar, sob castigo, os
injustos para o Dia de Juízo, especialmente aqueles que, seguindo a
carne, andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo.
Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores, ao
passo que anjos, embora maiores em força e poder, não proferem contra
elas juízo infamante na presença do Senhor. Esses, todavia, como brutos
irracionais, naturalmente feitos para presa e destruição, falando mal
daquilo em que são ignorantes, na sua destruição também hão de ser
destruídos" (2Pe 2.9-12). Repare
que Pedro não coloca nenhum "se" ao que diz aqui. Parece que muitos
cristãos que defendem (e/ou praticam) a agressão, a ofensa e o
desrespeito à autoridade se esquecem de uma verdade universal:
"Todo
homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há
autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram
por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste
à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos
condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o
bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o
bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para
teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo
que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o
que pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente
por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. Por
esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus,
atendendo, constantemente, a este serviço. Pagai a todos o que lhes é
devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem
respeito, respeito; a quem honra, honra" (Rm 13.1-7).
Meu
irmão, minha irmã, a Bíblia é claríssima. O respeito à autoridade é um
princípio que permeia as Escrituras desde Gênesis até Apocalipse. O
conceito do respeito aos hierarquicamente superiores está presente o
tempo todo na Palavra de Deus, da desobediência de Adão, no Éden, até o
anjo que não permite que João se prostre diante de si. Outro princípio é
o da paz, que é uma das virtudes do fruto do Espírito e é uma qualidade
de pessoas que Jesus apontou como bem-aventuradas - prova de que
devemos sempre buscar promover a paz. Por fim, o principio do amor ao
próximo tem de estar presente em cada atitude nossa. Portanto, você
sempre deve se perguntar, quando tiver alguma dúvida sobre seu
posicionamento em relação a alguma autoridade: a forma como estou agindo
condiz com os princípios do respeito, do amor e da paz? Se perceber que
não, não é bíblico.
Quero
enfatizar: esta não é uma reflexão política, muito menos
político-partidária. É espiritual. Uma vez que isso esteja claro,
preciso dizer que os xingamentos a Dilma foram uma postura errada,
deselegante, mal-educada, infeliz, desrespeitosa e antibíblica. E assim
teria sido se quem estivesse ali fosse qualquer outro presidente, de
esquerda ou de direita; ou se fôssemos eu, você ou outra pessoa sem
cargo ou posição. O caminho não é esse. A solução não é essa. A atitude
não é essa. Respeito, sempre. Amor, sempre. Paz, sempre.
Discordar
não é pecado. Manifestar insatisfação não é pecado. Mas isso deve ser
feito com mansidão e honra - com qualquer um e em qualquer
circunstância. O Sermão do Monte deixa isso extremamente evidente. A
agressão à presidenta aconteceu porque quem a xingou acredita que ela
tem errado em suas ações. Gostaria de lembrar que eu e você erramos em
nossas ações todos os dias. Apesar disso, Deus não nos tratou como
merecíamos, mas enviou Jesus para morrer pelos nossos erros. Que
estendamos a todos a mesma graça que o Senhor manifestou a nós. Fora
disso não há cristianismo.
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