Uma espiritualidade a partir do outro / Spirituality and otherness / La espiritualidad y la alteridad

Penso na possibilidade de construção de uma experiência de Deus a tal ponto que resulte no surgimento de uma comunidade que seja solidária à dor que as pessoas desse tempo sofrem. Uma das formas de imaginar isso se encontra na narrativa bíblica da cura do paralítico de Cafarnaum (Marcos 2.1-12). Aquela experiência nos ajuda a construir uma ideia de como é possível viver como comunidade num mundo marcado pela perda, pelo sofrimento, pelas incertezas.
Essa comunidade precisa ser identificada como um grupo de pessoas que chega junto às pessoas que sofrem e que precisam de apoio. Os quatro que trouxeram o paralítico chamaram a atenção de Jesus, que viu neles fé. Não foi a multidão nem foram os religiosos que enchiam a casa. Repare como diz a Bíblia: “Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: ‘Filho, os seus pecados estão perdoados.’” Marcos 2.5.
Isso provocou uma reação entre os religiosos, que criticaram a Jesus por priorizar aquele fato em relação aos demais. Afinal, uma multidão tinha ido à casa em que Jesus estava. Jesus viu naqueles quatro a imagem da igreja que ele sonhou para agir no mundo. A igreja que se solidariza age a partir de princípios que estão na contramão da mentalidade que rege as nossas ações no mundo.
Aqueles quatro estavam em comunhão para realizar uma ação concreta e é a comunhão que confere à humanidade a condição que Deus deseja para ela. Essa comunhão provoca deslocamentos nos nossos relacionamentos que podem ser encontrados na atitude daquelas pessoas. É o que nos faz ser solidários.
Para construir uma espiritualidade a partir do outro é preciso que se dê ênfase aos relacionamentos, em que a temporalidade seja definida mais pelo oportuno do que pelo relógio. A Bíblia diz que “os dias em que vivemos são maus; por isso aproveitem bem todas as oportunidades que vocês têm.” Efésios 5.16 NTLH. É preciso que se desenvolva uma experiência que procure mais viver de acordo com o que Cristo propõe como ensino e vida do que a partir de regras. A Bíblia também diz: “É ele quem nos torna capazes de servir à nova aliança, que tem como base não a lei escrita, mas o Espírito de Deus. A lei escrita mata, mas o Espírito de Deus dá a vida.” 2 Coríntios 3.6 NTLH.
Para isso, precisamos definir a nossa identidade mais nas ações concretas do que em teorias. Veja o que a Bíblia diz também: “Porém vocês, irmãos, foram chamados para serem livres. Mas não deixem que essa liberdade se torne uma desculpa para permitir que a natureza humana domine vocês. Pelo contrário, que o amor faça com que vocês sirvam uns aos outros.” Gálatas 5.13 NTLH. Então, deixe de viver menos em seu espaço e passe a viver mais no espaço do outro. O conselho bíblico é: “Dediquem-se uns aos outros com amor fraternal. Prefiram dar honra aos outros mais do que a si próprios.” Romanos 12.10 NVI. A atitude daquelas quatro pessoas chamou a atenção de Jesus porque estava em sintonia com o cuidado dele para conosco. Irenio Silveira Chaves.
Prs Darci e Miriam Francisco
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