sábado, 13 de outubro de 2012



Lídia "Coração de Leão"

Estávamos chegando às vésperas do Dia das Mães. Na verdade, vejo essa frase com uma certa ironia, pois desde que minha primeira filha nasceu, não deixei de ser mãe nem por um segundo, quanto mais por um dia!
Minha intenção não é filosofar sobre esse assunto e sim narrar um fato que na verdade não me deixa parar de pensar sobre a complexidade que envolve essa história de ser Mãe.
Como disse no início, era a semana do Dia das Mães e já estava preparada para as três homenagens que receberia de cada uma das minhas filhas na escola. Na terça, seria a homenagem da caçula, que agora está com seis aninhos e me enche de alegria com seu jeitinho ainda um pouco infantil, mas só o jeitinho, e vou explicar porque.

Bom, saí de casa como de costume, às 6h05, pois a Reunião de Pais que incluía a homenagem começaria às 7h20. Esse seria um tempo razoável já que o trajeto que preciso percorrer para chegar à escola é de aproximadamente 21km e no horário que saí, gastaria no máximo 45 minutos até meu destino. Pois bem, penteei com mais cuidado o cabelinho fino da Lídia, delicado, com lindos cachinhos nas pontas, pois queria fotografar seus melhores ângulos, afinal aquela não deixava de ser uma ocasião muito especial.  Tudo pronto, todas no carro, mochilas e lancheiras organizadas e dispostas no porta-malas e saímos rumo ao nosso compromisso.

A princípio tudo parecia caminhar bem, o trânsito até um certo ponto, estava fluindo como de costume, mas infelizmente, um acidente grave num ponto de principal acesso à nossa rota causou um caos tão grande, uma concentração de carros tão impressionante me fez perceber que talvez não fosse possível assistir minha filhinha se apresentar. Olhei pra ela, que estava sentada no banco de trás, cinto atado, travesseirinho na cabeça, e disse: “Filha, você está vendo esse trânsito? Talvez não dê tempo de você cantar pra mamãe. Mas quero que você saiba que eu te amo muito e você não precisa ficar triste por isso, ok?” Ela virou seu rostinho pra mim, com olhos um pouco tristes e apenas sinalizou um “sim” com a cabeça . Sem mais palavras. Enquanto isso, achei por bem arriscar um caminho alternativo, mas sem sucesso.

Chegamos à escola e soubemos que a homenagem havia sido a primeira parte de Reunião de Pais, e por isso, de fato, Lídia não cantou pra mim junto com seus colegas. Ao invés disso, pegou o presente que ela mesma havia preparado e com um sorriso gigante me entregou e  me abraçou com carinho.
Depois desse momento, minha manhã foi difícil de suportar. Fiz minha leitura devocional, e passei muito tempo orando, pedindo a Deus que cuidasse do coraçãozinho da minha filha, pois sabia o quanto aquele momento era importante pra ela e não queria que ela sofresse demais por essa frustração.  O alívio foi quase imediato. Louvei a Deus por seu calor reconfortante. Como ia busca-las na saída da aula, não via a hora de que o relógio batesse meio dia. Não sabia o que esperar. Imaginei que ela fosse estar desanimada, talvez chorando, cabisbaixo, mas encontrei uma menininha correndo pela rua, feliz por se reencontrar comigo. Ao entrar no carro, depois de atar o cinto, ela então começou a cantar: “Amo você e nunca vou te esquecer, amo você, contigo quero parecer”. Gente, fiquei tão emocionada com essa homenagem exclusiva! Como subestimei a capacidade de lidar com a frustração da minha filha. Encontrei um coração de leão num corpinho de menina! Que alegria imensa!
Mesmo assim, para me certificar de que ela estava bem, ainda a questionei: “Filha, você ficou chateada com o que aconteceu?” E mais uma vez surpreendendo todas as minhas expectativas, ela respondeu: “Não, mamãe, foi até bom, assim a senhora ficou mais curiosa”. Meu Deus. Emudeci.

Fiquei pensando mesmo que ser mãe é uma grande loucura. Se alguém acha que essa é uma tarefa comum, corriqueira, que qualquer mulher pode ser uma, talvez ainda não tenha tido a experiência da maternidade, ou não se lembre dos esforços de sua própria mãe. Já disse algumas vezes que o coração da mãe parece que tem sempre uma dorzinha, como se aquela sensação de friozinho na barriga fosse constante. Lutamos para fazer e ver nossos filhos felizes, por isso, muitas vezes, nos abnegamos e abrimos mão de muito do que há em nós e daquilo que desejamos. Enquanto sabemos que é importante que nossos filhos recebam “nãos” ou quebrem a cara, pois insistem na desobediência, nosso coração dói duas vezes, sofremos por nós e por eles. 

Por outro lado, das experiências mais intensas que já tive com Deus, muitas delas, senão a maioria, foram vivenciadas após a maternidade. Vi a mão poderosa de Deus em cada milagre, desde o nascimento até muitos livramentos envolvendo tombos, viroses, febres inexplicáveis, noites sem dormir. Posso dizer que cada uma dessas experiências valeu a pena, pois assim Deus tem moldado minha vida ao caráter daquele que passou tudo isso por mim e pelas minhas filhas também.
Vejo em tudo isso que não há como ser mãe sem o auxílio de Deus. Ser mãe mostra meu lado mais frágil, desperta em mim o que há de melhor, mas também o que há de pior. Ser mãe me faz perceber que sou limitada, tenho vida útil, passível de perecer. Somente Deus, por meio de Jesus, é capaz de restaurar minha alma, tratar daquilo que não perece e só por meio dele, posse deixar um legado que não vai ter fim com os meus dias.

O que dizer de tudo isso? Mais uma vez, obrigada Senhor, por me deixar conhecer mais uma das facetas do seu amor aos seus filhos, a lidar com cada um conforme sua individualidade, assim como os pais tem o privilégio de lidar com seus próprios filhos conhecendo a peculiaridade de cada um. É isso que faz da maternidade algo tão singular. É isso que me faz engradecer ao Autor da Vida.

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